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04/10/2020

O Fim de Barata, Sem Lágrimas Nem Festa

 O Fim de Barata, Sem Lágrimas Nem Festa




Em 1997, ainda na tosca Internet brasileira, criei um site com intuito de aprendizado e de divulgar meus trabalhos. Eu tinha ficado quase 15 anos sem escrever, depois de ter jogado fora uma mala de couro cheia de escritos, por pressão da mulher com quem eu tinha acabado de me casar. Esse site, primeiramente intitulado de "Cichetto's W.C", era hospedado pela Geocities, o primeiro serviço de hospedagem grátis de sites do mundo. Esse projeto mudou de nome mais umas duas vezes, até que em 1999, quando mudei para Belém, Pará, assustado com o tamanho das "baratas-cascudas" da cidade, e querendo um nome que representasse tudo aquilo que eu almejava, recebeu seu nome definitivo: A Barata. Era comum sites usaram nomes de animais, como "O Elefante", mas eu queria algo diferente. A referência à resistência do inseto e a homenagem ao maior escritor que reconheço, Kafka, completaram o quadro. Junto com o nome veio o slogan "Liberdade de Expressão e Expressão de Liberdade", que também entre outras coisas que criei foi abundantemente copiado.

O projeto foi tomando corpo, e de algo pessoal foi crescendo e tomando forma, e com isso mais e mais seguidores, publicadores e idéias. Foi o primeiro site, possivelmente no mundo, a criar páginas gratuitas para bandas, bem antes do My Space virar uma coqueluche com esse formato. Foram centenas de bandas presentes. Entretanto, o forte de A Barata era a publicação de textos, poesia e prosa: chegamos a ter mais de mil (1000) autores. 




Em 2000, retornando a São Paulo, cheguei a dar entrevista na TV Cultura, no programa de Marcelo Tas, o "Vitrine", e comecei a tramar eventos públicos, editar um fanzine impresso e produzir camisetas. Tudo foi um sucesso. O primeiro "Fest'A Barata", no início de 2002, colocou mais gente que a capacidade da casa, numa sexta feira de Janeiro, mês de férias e um dia em que a cidade quase ficou debaixo d'água. Cinco bandas e uma platéia predominantemente trajada com camisetas do site, que meu amigo Strapola não cansava de produzir.

Em Abril de 2001 consegui o registro do domínio ".com.br", coisa que era impensável para um site independente na época. Até endereços de email atrelados ao site (algumacoisa@abarata.com.br) eu vendia, e o site tinha uma média absurdamente alta, ainda para os dias de hoje (imaginem para a época), de mais de 1000 acessos/dia.  Foi nesse momento que as pessoas começaram a ligar minha pessoa ao site e vice-versa. para meu orgulho deixei de ser Luiz Carlos para me tornar "Barata", a um número cada vez maior de pessoas. Não existe nada mais gratificante do que ter um nome atrelado ao seu trabalho.




(Muitos já estão torcendo o nariz e dizendo: "Ah, esse cara ganhou muita grana, mas estão enganados: como eu disse todas as publicações e serviços eram totalmente grátis. O lucro das camisetas, dos emails eram apenas o suficientes para cobrir os custos de hospedagem e outros, que na época eram bem mais caros que atualmente. Quanto aos festivais, quem já fez algum evento em "parceria" com donos de casas de Rock sabe bem que no fim nosso único lucro é o prazer de fazer. O lucro é sempre deles.)
Entre 2000 e 2005, mesmo com muito trabalho (sempre trabalhei sozinho) e despesas, "A Barata" foi uma referência, especialmente nos meios independentes ligados ao Rock. Acabei por me tornar algo como uma "quase celebridade underground", chegando ao ponto de dar autógrafos quando participava de algum evento, especialmente na época - 2002 a 2005 -, em que fui Manager da banda paulista Patrulha do Espaço. Há discos da banda com assinaturas dos músicos e minha, para meu orgulho, confesso. Muita gente também tratou de copiar a ideia, e assim nasceram muitos sites, uma boa parte com nomes de insetos, como moscas, besouros e outros. Alguns investiram muita grana, mas não duraram mais que um ou dois anos.

Entretanto, a partir da segunda metade da primeira década do terceiro milênio, começaram a aparecer as chamadas redes sociais. Primeiramente o Orkut, depois o Facebook, e com sua voracidade, passaram a roubar para si todas as almas e pensamentos, tratando de pender as pessoas cada vez nas suas garras sequiosas. Com isso, o acesso a sites independentes, aqueles que não entram em jogos políticos, nem pagam ou recebem nada para serem lidos, começou a despencar. A coisa piorou mais ainda após 2013, quando o jogo sujo do "nós contra eles", deflagrado por uma linha ideológica apanhada com as calças na mão cagando no país, e decidiram por acirrar ânimos de uma forma de tentar se blindar. Começaram inimizades, ofensas e parece que o restante dos amigos, muitos deles completamente anônimos até começarem a divulgar seus trabalhos no site, decidiram que o melhor era me colocar na geladeira, para não dizer lugares piores. Um fato: muitos dos autores que, alguns ainda na pré adolescência física e literária em A Barata e uma boa quantidade hoje goza de prestígio nos meios culturais e literários; muitos artistas que eu trouxe comigo, levando para eventos, expondo trabalhos literários e artísticos de toda forma, hoje se esquecem de tudo e preferem ignorar. Nunca pedi glória pelo que fiz, mas reconhecimento cairia bem. 




A ultima "encarnação" de A Barata foi em 2018, quando mudei de cidade, abandonando a cidade que me viu nascer, mas que foi tomada por um cem número de usurpadores, e que, de cosmopolita se tornou uma cidade de ratazanas humanas, com as eventuais exceções, decidi que era preciso manter a chama viva de A Barata. Foram dois meses de trabalho que me renderam um livro onde conto a história e as histórias desse portal, que mesmo com a memória das pessoas que dele participaram tenha apagado há ainda muitos e muitos registros aqui e acolá.

Estou neste momento fazendo esse resumo de 23 anos de história de um projeto que em outros tempos e mentalidades teria me alçado a um patamar merecido - não tenho modéstia desonesta, mas nem vaidade inútil, apenas fatos que falam por mim - para decretar o fim de "A Barata". A partir de 1 de Novembro o site sairá do ar em definitivo, já que não dá mais para ter despesas mensais para que uma ou duas pessoas ao dia o acessem, sem sequer um olá. Fim de um sonho? Não sei se algo que durou tanto tempo ainda pode ser chamado de sonho. A verdade é que findou. Tudo acaba, nós mesmos acabamos. Estou certo que criei história, mas não espero figurar nela, pois quem poderia contar e continuar prefere mesmo ir para outras praias, nadando de braçada num bote furado, e esquece de uma jangada que eu construí e que ajudou muita gente a atravessar mares revoltos. 

Obrigado a todos que me ajudaram e partilharam comigo desses vinte e três anos. 

A Barata, Liberdade de Expressão e Expressão de Liberdade, 1997 - 2020.
Barata Cichetto, 4 de Outubro de 2020

07/05/2020

Herdeiros

Herdeiros
Barata Cichetto



Quantos poemas ainda serão escritos até que a morte esteja consumada
E quantas mortes ainda serão necessárias até que a poesia seja exumada?
Há muito que estou morto, há tempos que não enxergo o meu reflexo
Tanto tempo que nem lembro e tanto que nem consigo estar perplexo.

A poesia morreu quando eu nasci e renascerá depois da minha morte
Ah, mas que sujeito idiota eu sou, que nem posso contar com a sorte
E se minhas rimas se repetem entre o morrer e ganhar grana alguma
É porque não encontro as palavras certas, então repito qualquer uma.

Quantos poemas tolos ainda hei de escrever antes que possa morrer?
Lamentos nulos, réplicas tolas, antes que a morte venha me socorrer
Mas e então, o que dirão meus filhos diante de minha carcaça velada?
Decerto algo a respeito de após o velório beberem uma cerveja gelada.

Mas e se acaso alguma recompensa advir da sanha de poeta maldito
Tratarão de pegar a senha da conta corrente e tudo que não foi dito
E então eu que nunca fui bom o suficiente, um pornográfico santo
Serei coberto com farda de imortal como se aquilo fosse um manto.

E é meu desejo e meu testamento escrito em letras de computador
Que importância alguma lhes seja entregue pelo fruto da minha dor
Pois riam enquanto minhas carnes eram trituradas e moídas sem dó
E agora, perante a imortalidade, minha herança é apenas o meu pó.

Sento em um banco da praça destruída e cheia de merda de pombos
Apanho meu caderno e conto sobre minhas escadas e meus tombos
E por não ter sobrenome de poeta português pomposo por herança
Guardo minha angustia na carteira, junto com as notas de cobrança.

Ah, meus filhos, quanta confusão existe nas suas mentes encardidas
Quantas mentiras lhes foram contadas, quantas verdades escondidas
E eu que sem louvor ensinei a não crerem em tudo aquilo que lêem
Agora peço com fervor que não leiam apenas aquilo em que crêem.

E se um dia, nos espaços em branco entre palavras que eu não escrevi
E no silêncio daquelas que eu não disse e das mortes que eu sobrevivi
Perceberem gritos de dor e pedidos de socorro, não é a sua imaginação
Pois será ali que eu estarei, imortal e lúcido, manchando sua reputação.

07/02/2014
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

Luiz Domingues: "Luz, Câmera & Rock'n'Roll"

Luiz Domingues: "Luz, Câmera & Rock'n'Roll"
Barata Cichetto





Acredito que tenha sido em 1977 que conheci Luiz Antônio Domingues. Era ele quem respondia as cartas endereçadas ao "Sarrumor Jovem", revistinha criada pelo Laert Julio, que posteriormente viria ser conhecido como criador da banda Língua de Trapo. Nas cartas que trocamos por algum tempo, Luiz dizia estar estudando contrabaixo e que pretendia montar uma banda. (*) 

De lá para cá muita coisa aconteceu. Laert Julio se transformou em Laert Sarrumor, Luiz saiu do Língua de Trapo e foi tocar em e por outras bandas, como A Chave do Sol, The Key, Pittbulls On Crack e muitos etc. Luiz Antônio Domingues ficou conhecido como Tiguês, apelido que há muito ele execra, e o Rock brasileiro, que conheceu um momento de alguma - não muita - glória nos anos 1980, cedeu lugar a outros gêneros e estilos, e retornou ao gueto onde foi criado, e muitos músicos foram tocar em outros terreiros.

Mas Luiz Domingues nunca cedeu a modismos, e sempre se manteve fiel ao Espírito do Rock. Em 1999 se uniu ao capitão da Patrulha do Espaço, juntamente com - na época dois garotos quase imberbes - Marcello Schevano e Rodrigo Hid, para uma das mais icônicas formações da banda. Foram quatro discos com essa formação, até 2004, quando ele foi convidado pelo guitarrista Xando Zupo para, juntamente com Rodrigo, integrar a banda Pedra.

Foi durante uma boa parte do período da Patrulha do Espaço em que estreitamos nossos laços, viajando a bordo do "Azulão", icônico ônibus da Patrulha do Espaço pilotado pelo Walter Gonçalves, o Alemão, pelas estradas do interior de São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Horas e horas de chão, e conversas e histórias pra lá de interessantes. Isso acabou por render uma série de crônicas com o título genérico de "Diário de Bordo", que eram publicadas em meu site A Barata, e depois incorporadas ao meu livro "Patrulha do Espaço no Planeta Rock".

Ao longo do tempo essa amizade sempre se manteve, já que Luiz Domingues é um amigo que sempre apóia todas as boas iniciativas relacionadas ao mundo do Rock, e sendo assim sempre compareceu a muitos dos eventos que criei, entre 2002 e 2015. Sempre com uma educação e nobreza, motivos pelos quais eu lhe conferi o título de "Gentleman do Rock Brasileiro".

Mas não é apenas Rock que Luiz Domingues respira. Literatura e cinema são outras de suas paixões e que agora em 2020 se unem em uma coleção: "Luz; Câmera & Rock'n'Roll". 

Dividido em três volumes, a coleção traz 131 resenhas sobre filmes produzidos direta ou indiretamente com o mote do Rock'n'Roll, numa combinação fortíssima e apaixonante entre Rock e Cinema, que historiadores modernos batizaram de "Rock Movies". "Luz; Câmera & Rock'n'Roll" é uma coleção imprescindível para quem ama Rock e Cinema.

Atualmente, Luiz Domingues participa da banda Kim Kehl & Os Kurandeiros, somando mais um grande trabalho a sua vasta carreira que inclui mais de vinte álbuns lançados no mercado fonográfico brasileiro. Como escritor, mantém três blogs na Internet e colabora com diversos outros, além de colaborações em revistas impressas.

Lançado através da plataforma Clube de Autores em parceira com a Matilda Produções, os três volumes podem ser comprados juntos ou em separado.

Indispensável!

Serviço:
Luz; Câmera & Rock’n’ Roll
(Obra Em Três Volumes)
Autor: Luiz Domingues
Editora: Matilda Produções
Apoio Gráfico: Clube de Autores
Editor: Cristiano Rocha Affonso da Costa
Revisão, Diagramação, Ficha Catalográfica: Alynne Cavalcante
Capa (Criação e Lay-out): Victoria Costa
Foto do Autor: Lincoln Baraccat

Link para Compra: https://bit.ly/2YeYIa9
Blog 1: http://luiz-domingues.blogspot.com

(*) (Comentário factual de Luiz Domingues, posterior à publicação: "Na verdade, eu já estava em uma banda, mesmo ainda a aprender a tocar a duras penas. O Boca do Céu fora fundado em 1976." 
Foi nessa época, pré criação da banda Língua de Trapo, que recebi um convite para uma reunião daquele pessoal em frente ao Teatro Municipal de São Paulo. Fui, mas, encalacrado na minha profunda timidez, fiquei observando de longe, sem coragem de me aproximar, e assim perdi a oportunidade de conhecer aquelas pessoas, o que só ocorreria muitos e muitos anos depois. Comentei essa história há pouco tempo com Laert, e agora com Luiz. Ambos ficaram abismados.

06/05/2020

A Morte da Palavra

A Morte da Palavra
Barata Cichetto



As palavras são soldados enfileirados, o poema um exército forte.
O General é o Poeta, de estrelas no peito e o sentimento de morte.

Palavras entrincheiradas, tiros na cabeça, e uma guerra maldita.
Soldados marchando e cantando seguindo uma canção inaudita,
A risca as ordens de comando do General e sua bandeira em riste,
E partem à batalha perdida, assobiando uma doce balada triste.

Palavras recrutadas á força, entrincheiradas, armas em punho,
Tiros são palavras nas bocas das espingardas, de duro cunho.

O General passa em revista as tropas, posição de sentido,
Palavras perfiladas em linha reta, nunca tinham mentido.
Grita a ordem do dia e os soldados lhe batem continências,
E lhe somem da boca as palavras, ordens são contingências.

Então disse o Soldado-Palavra ao Comando:
- Agora deixe de guerras que estou amando.

E a palavra traidora condenada ao fuzilamento, corte marcial,
Um julgamento injusto, tribunal de exceção, juramento parcial,
Com único disparo executada sob o silêncio da surda multidão,
A morte certa e o pelotão de fuzilamento sempre de prontidão.

E morrem as palavras, e morre a boca morta!
- Deixe de guerra, General, a Palavra está morta.

31/10/2011
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

04/05/2020

Ainda Respiro

Ainda  Respiro
Barata Cichetto

"Máscara" - Barata Cichetto 2016

Eu gosto que pensem que sou desonesto,
Assim deixam de pensar que não presto,
E eu gosto que me vejam como diferente,
Assim não me enxergam como indigente.
Enfim, gosto tanto de escutar um suspiro,
Que assim posso achar que ainda respiro.

09/09/2019
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

03/05/2020

Feira Livre da Poesia

Feira Livre da Poesia
Barata Cichetto



Poesia não é feira e não precisa de hipocrisia,
E não é pastel, nem caldo de cana, burguesia.
O feirante acorda cedo, enquanto o poeta dorme,
Então fiquem o feirante rico e o poeta com fome.

Fede a burguesia, disse o Poeta, fede até a feira,
Também fede Barata, aquele sem eira nem beira.
E o que fede não cheira a Rosas e nem tem Casa,
Mas o que o poeta tem não é reinado, é uma asa.

Grita o feirante chamando a distinta freguesia.
E se não é tomate, nem alface, o que é Poesia?
Acabou a feira e os restos estão à sua disposição,
Então que comam o mendigo, o poeta e o ancião.

Tomates moles, restos de alface, cessam os gritos,
Agora dormem os feirantes, os pobres e os aflitos.
E acordam os poetas, pois ainda são bem poucos,
Gritando "Poesia!" igual os feirantes, e os loucos.

10/05/2013
©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados

01/05/2020

Hordas

Hordas
Barata Cichetto



Fui atacado por hordas de fanáticos sem piedade
Agora quando desfilo a dor pelas ruas da cidade
Arrasto uma perna, sangue pingando pelas esquinas
Pus escorre da minha alma, jorra ódio das retinas.

Fui atacado por hordas de prostitutas sem desejo
Agora quando destilo minha impotência a outro beijo
Sou apedrejado por anjos eunucos saídos do esgoto
Ainda escorre sangue da ferida e pus do meu escroto.

Fui atacado por hordas de santos cegos de cabeças brancas
Em minha ferida colocaram sal, nas portas puseram trancas
Agora quando minha existência oscila sob a ponta de agulhas
Sinto apenas olhos cegos de ódio soltando chamas e fagulhas.

Fui atacado por hordas de crianças matreiras e ensandecidas
Agora quando clamo por inocência encontro freiras emudecidas
Puxando a perna, com o sangue ainda escorrendo pelos lábios
Clamo por justiça, mas não encontro nem deuses e nem sábios.

8/11/2006

©Luiz Carlos Cichetto - Direitos Autorais Reservados